segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Romance da moça assustada


Canta, pássaro nos ares!
Pássaro nos ares canta
a moça sobe na colina
vestida de mil espantos.
Ao pé da serra os lobos
seguem-na farejando
vindos de muito longe
também vestidos de pranto.

Canta, pássaro nos ares!
A moça está chorando
perdeu o pai em emboscada
e a mãe está delirando.
No topo d’alta colina
faz um frio de montanha
 pelo céu a lua cheia
brilha seu esplendor de prata.

Canta o pássaro nos ares
e o vento almeja abraçá-la
mas não pode, ela corre
fugindo dos lobos vorazes.

O lenhador sem camisa
na fria noite trabalhava,
de longe escuta o grito
da pobre moça assustada.
“Senhor, protege-me dos lobos
que desfaleço sem morada”
“Moça, perdões peço-te mil,
mas faz frio em ‘nha casa”
“Senhor, usa de piedade
que me encontro cansada”
“Moça, não me causes tristeza,
que tenho esposa acamada”
“Senhor, presta-me auxílio
que larga é a estrada”
“Não me causes mais tormento,
pois tenho filho aleijado”
“Se não mo dás gratuitamente
deixa-me por tua escrava”

O lenhador sentiu no frio
a subir em suas entranhas
a ponta de ígneo gozo,
pelos membros aflorando
“Dar-se-ía, ó bela moça,
que eu bebesse de teu bálsamo?”

Ao longe se aproximam os lobos,
as narinas farejando.
Na madrugada a moça triste
goza amores de espanto.
O vento corre em volta
como que a tudo vigiando
Na casa do lenhador alguém olha:
Por que Papai não está voltando?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O tempo e os rastros (Monólogo em versos)

O TEMPO E OS RASTROS (Há uma senhora sentada, olhando para a plateia. Ela quer nos dizer algo, mas tem dúvida de como fazê-lo, plane...