quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O muro e a guerra


(Pessoas)


MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA
GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA MURO
MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA MURO GUERRA

(Pessoas)
O que separa os olhos
e desfaz a alma

OS SERTÕES (DORMENTES)


OS SERTÕES (DORMENTES)


LAVRA
DOR
MENTES
SER
TÃO

DORMENTES

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A flor mais feia


A flor mais feia

Que dirias se
ao invés de rosas
flores feias te dessem?
Daquelas que
não tem forma, olfato
e nem mesmo pétalas
das quais se diga?

Ora, dirias que
não são rosas
mas flores feias
das quais olhas
mas não atentas
por não cheirarem
nem terem forma
e serem feias.

Dirías da rosa mil pendores
Louvarias a harmonia
de seus traços;
a fragilidade com que
se entrega, o verso que
ela inspira e a beleza
com que a mesma
é a mais louvada das flores

e se te lembrares
daquela flor mais feia
seria só pra fazer dela a menos
Porque a flor mais feia
não se colhe: se arranca;
não se rega: se mata;
nem se adjetiva: despreza-se!

Mas outrem diria-te
que, na verdade,
a flor mais feia é bela.
E mais, diria que é
a mais bela
por ser a mais feia
pois sendo feia
ainda assim é uma flor.

Quem sabe se
ao receberes flores feias
recebas o belo
de estar resistindo.
De seres a única
que no meio de tantas outra flores
tenhas o direito de dizer
que, apesar de seres

a mais indigna
de todas as flores
és digna o suficiente
para adornar o jardim oculto
da natureza -
como o faz a flor mais feia
que sem forma, odores
e pétalas fura o tempo

o medo, a mágoa
e o desprezo
impondo à beleza
sua fealdade de flor
contra o orgulho
e o preconceito
e arrogância
e, por fim, a morte

Porque a flor mais feia
marca como uma ferida
cuja cicatriz permanece
pra sempre!!

Casas


Casas

Ladeando nossas estradas
existem certos cubículos
feitos de suor e concreto
nos quais os homens crescidos

sentem-se novamente feto.

Todo o conforto de útero:
calor de ventre materno,
tem neles imagem perfeita
obra-prima industrial, externa

útero artificial, sem sexo...

E se são de novo rebentos,
são de uma mãe quotidiana
mãe que sempre estando prenha
tem seu constante parto diário.

Inreprodutivo e assexuado.

Mas como reaver a antiga
morada? Reencontrar assim
de soslaio o ventre perdido,
a casa da mãe onde tinha

atenção de único filho?

Poder-se-á reconstruir tal
cubículo singular, medido
em sua forma aritmética
com todos os traços nativos

onde amalgamados todos
comunguem de uma mesma mulher?
E onde o homem se sinta
criança, dona de um reino

que venha a ser só seu?

Onde o útero o acolha
por ser frágil seu ser?


Cultura



O girino é o peixinho do sapo.

O silêncio é o começo do papo.



O bigode é a antena do gato.

O cavalo é o pasto do carrapato.



O cabrito é o cordeiro da cabra.

O pescoço é a barriga da cobra.



O leitão é um porquinho mais novo.

A galinha é um pouquinho do ovo.



O desejo é o começo do corpo.

Engordar é tarefa do porco.



A cegonha é a girafa do ganso.

O cachorro é um lobo mais manso.



O escuro é a metade da zebra.

As raízes são as veias da seiva.



O camelo é um cavalo sem sede.

Tartaruga por dentro é parede.



O potrinho é o bezerro da égua.

A batalha é o começo da trégua.



Papagaio é um dragão miniatura.

Bactéria num meio é cultura.

ARNALDO ANTUNES

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Painel


Painel

Certas dores são sós
assim coma certas angústias
que aprisionam a alma da gente,
mas que no entanto,
fertilizam, se enraizam, crescem
tal qual o tamanho de nossa solidão
e o desejo que temos de fugir/resistir
a tudo que nos cerca e aborrece.

Certas dores também são sós:
uma lembrança; um reflexo,
um ente querido, um elo perdido,
as emoções infinitas no peito:
tão plurais dentro de um único tórax,
mas que doem como um todo.

E são também sós os olhares,
principalmente cada um separadamente.
Todas as combinações fotogâmicas,
todos os prótons e elétrons estatitizados
e todas as angústias dos homens
gravadas para sempre numa fotografia
na parede empoeirada de uma sala de estar.

Todas estas coisas
com todos seus marasmos
e solidões pulsantes... enfim
tudo isto, seja o que for,
acabam aparecendo um todo complexo
o qual tentamos ignorar
sem saber porquê...
Mas que ao reamontoar todas as peças
nos damos conta/ percebemos que
só e únicamente, carregamos uma realidade só!

Por que?


Por que?

Por que rompeste o encanto;
esvaziaste nosso armários
e guarda-roupas, livros caros
cheios de poeira e pranto?

Por que me alegraste tanto
se sabias que ta adorava
de um querer e paixão rara
- de um fervor de dar espanto?

Por que abandonaste a mim?
Por que aceleraste o fim
e fizeste do amor mágoa?

Por que não voltas e me abraças
e, juntos, limparemos a casa
de toda tristeza, dor e mágoa?

O tempo e os rastros (Monólogo em versos)

O TEMPO E OS RASTROS (Há uma senhora sentada, olhando para a plateia. Ela quer nos dizer algo, mas tem dúvida de como fazê-lo, plane...