sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fogo, Palha e Lenha


O fogo deseja queimar
e, queimando, consumir-se
junto a tudo que toca
em seu devir infinito.

Pois foi pra isso que nasceu.
Seu encanto descontínuo
está no devorar-se todo
se lançar ao precipício.

Busca arder até queimar-se
em seu próprio calor íntimo,
incendiar na própria alma
o prazer mediante o risco.

***

A palha é ser não sendo,
sombra do que não existe.
Antes erva, flor silvestre,
hoje morta, ressequida.

Pelo vento que a carregue
busca ela seu destino.
Sem ser, somente estando
em constante destruir-se.

Indo de um lado a outro,
de um lado a outro indo:
A palha que só memória
quer também o extinguir-se.

***

Seria acaso o encontro
entre seres tão distintos,
mas que tão ardentemente
pra si optam o perigo?

***

A palha logo mostrou-lhe
a voz frágil feminina,
quer doar-se ao contato
em um elo de lascívia.

O fogo à dama atende,
com os longos dedos ígneos
abraça-a num de repente
entregando-se ao limite.

Juntos palha e fogo ardem
a loucura do seu risco,
um fazer a desmanchar-se
em alturas nunca vistas.

***

Mas foi só fogo de palha
que se foi com um sorriso
deixando o fogo cansado,
deixando o fogo sozinho...

***

A chama de tão cansada
buscou onde esvair-se
de sua agora vida pouca
num rápido extinguir-se.

Ao pé da lenha sentou-se
como que a pedir abrigo
em sua crespa carnadura
de tempos idos, antigos.

Da sua solidão velada
abre a lenha entrelinha,
não partilha do encanto
de ser chama ao princípio.

***

Mas o fogo abrigado
aos poucos recuperaria
a força que antes tivera
no outrora de sua vida.

***

Ela sente lá por dentro
no calor, as eras idas...
em seu ocaso lembrou-se
que não era mais sozinha

Deixou-se arder livremente
ao fogo que se expandia
como um alguém tão próximo
e como um alguém que queria

mantê-lo, sim, tão próximo.
Até que acabasse a vida
ardendo juntos o tempo
em que o calor duraria.

Seria uma história de amor?

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Perto, perto, perto


Perto, vêm pra mais perto,
que meu ser se asfixia
nesta turva neblina
chamada saudade

Perto, vem pra mais perto,
onde não te escondas
do barulho das ondas
deste mar tenebroso...

E assim tão perto, perto, perto,
darei aos céus o meu alento
e a ti o meu contento
Vem mais pra perto, querido!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Por que chora Thereza?

Os olhos de Thereza
parecem chorar,
Os olhos de Thereza,
mas que tristeza
estão a clamar...

Que pedirá Thereza
em doce olhar?
Pedirão leveza
os olhos de Thereza
pra poder amar?

Ou querá Thereza
poder estar
na doce surpresa
d’eu estar com Thereza
em nosso lar?

Por que chora Thereza
com tanta tristeza
assim sem parar?

A morte de Sardanápalos

A Morte de Sardanápalos - Eugenie Delacroix
Mil imagens compõem a morte.
Neste caso, uma despedida;
deixar lá atrás algum reflexo
dessas imágens já antigas
como se no último suspiro
a memória que existe ainda
se desdobrasse em mil camadas
para ser, assim, percebida.

O demais, de resto, se sabe:
um gosto de sangue e de orgia,
um embate sem resistência
com tantas memórias perdidas,
talvez um pouco de coragem
que resultasse do delírio,
mas, enfim, uma coisa certa,
do teatro que foi sua vida
a arte refez as imagens
do fechamento das cortinas.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Deyse concreta

TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO                                                   TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO                                                     TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO                                                      TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO                    DEYSE                        TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO                                                      TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO                                                       TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO TE AMO LOVE                     

Romance da despedida

Antes que o coração
se divida em mil pedaços
Antes que os cristais
firam os pés descalços
Foge, cavaleiro nobre...
que um amor tao sublime
sofre por ser tao pobre.

Antes que as ilusões
fechem os seus portais
e que as muitas lágrimas
obstruam meu umbrais...
Foge, nobre guerreiro...
que esta noite preciosa
traz oculta o traiçoeiro...

Assim farei eu, meu amor,
assim farei se vos apraz,
deitarei fora minha vida
darei aos ventos minha paz,
Mas não me peças, nobre dama,
não me peças, por piedade
que eu apague a minha chama.

Vai-te, meu doce caveleiro,
vai-te a que se me inflama
cá o meu peito por dentro,
cá o meu peito te chama...
Foge,  meu nobre guerreiro
que perturbação tão grande
há de consumir-te inteiro.

Irei para onde mandares,
se assim queres que fassa,
cruzarei reinos e gentes,
mendingarei na praças...
Dá-me apenas, dama formosa,
um sorriso de teus labios,
os labios teus cor de rosa.

Me pedes singelo sorriso,
um sorriso amável me imploras.
Mas como dá-lo eu poderia
se por dentro o meu ser chora?
Foge, meu cavaleiro tão doce,
que os mouros se aproximam
com seus cavalos velozes...

Não me peças que parta,
pede, antes, que te defenda,
por ti eu passaria perigos
em abismos, escuras sendas.
Se queres ver amor tao grande,
hei de mostrar-te todo meu brio,
por ti derramarei meu sangue.

Não te peço amor tão grande,
que pagar-to não poderia,
ainda que com meu reino todo
que sem medida to daria...
Foge, guerreiro, para longe
onde nao te veja algum traidor
que neste bosque se esconde.

Vou-me, irei se é vosso desejo,
que ca meu peito vos obedece
com coração assim contrito
e apresentando-vos em prece.
Vou-me, minha aprazivel dama ,
que solidão tamanha, a minha
jamais apagará tamanha chama.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Arrepio II


Não se desenha um corpo
com as marcas que hão nele...
nem se delimita o corpo
com os traços que hão nele.

O corpo é uma obra de arte,
um desafio ao olhar do artista,
um mergulhar na sensibilidade
que há intrínseco em seu poema.

O corpo tem sua métrica
seu tempo e também seu ritmo,
não se pode desenhá-lo
se não se obedece esse mecanismo.

Para desenhar o corpo,
o corpo de uma mulher principalmente,
há de se olhar-se dentro dele,
ou melhor quem está por trás dele

a mulher que nele existe
com toda forma e compasso,
para só daí entendê-la claro
descobri-la e depois amá-la.

Arrepio.

Sorriso de outono

Ofereço-te uma rosa.
Para que a faças tua,
e fazê-la mais que rosa:
uma flor à tua altura.

Uma flor que te dissesse
com sua forma e estrutura
o que as palavras não dizem
porém os atos traduzem.

Uma flor que ao teu encanto
faça florescer em tudo
os amores escondidos
no palpitar de teu pulso.

E a beleza que de ti há
nesse teu sorriso puro,
nessa luz tua que irradia
em deslumbre absoluto

que junto à rosa que te  dou
fará um quadro mais uno,
fotografia primaveril,
no teu sorriso de outono.

Não nos preocupemos com a chuva


Não nos preocupemos com a chuva, querido.
Deixemos que as águas caiam sobre nós
e nos envolvam em seu manto de pureza
e nos façam perceber que não importa
o frio que nos rodeia, mas juntos um do outro
podemos nos proteger e nos amar.
E ser felizes por estarmos juntos nesse momento.
Apenas me abrace e sinta cada gota em seu rosto,
como a um abraço que corre e te envolve todo,
ou como uma prece que faz você pensar
em Deus, em mim, na vida... em nós.
Feche os olhos e me traga pra junto de si,
hoje deixemos que os gestos falem
o que o coração já sabe há muito tempo.
E assim nos deleitaremos nesse amar silencioso
estático, estóico e sem limites....
Porque muitas vezes o importante não é o que dizemos
mas o que calamos.

Não nos preocupemos com a chuva, querido.

Soneto da lavandeira


Aquela lavandeira me faz  lembrar
de quando minha avó me dizia
que a vida é uma grande poesia
dum grande rio qu’está a andar

No qual gente de todo o lugar
se reúne sempre à suas margens
com suas trouxas de roupa, imagens,
e, lavando, se põem a conversar

E na lavagem junto às águas
deixa-se correr toda a mágoa
enquanto segue a correnteza.

E, findos já de sua assepsia,
o que é branco à luz do dia
deixa transparecer sua beleza.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ponto de equilíbrio

Um ponto de equilíbrio
está contido em tua dança,
um algo como se fosse
um teu convite ao balanço.

Um convite dos mais belos,
a entrar na tua recâmara,
participar do teu jogo
compartir dos teus encantos.

Um desafio também, grande,
suportar esse teu tanto,
que tal qual fogo se exprime
no lirismo de teus passos,

que nos enleva a outro céu
sem os limites ou espaços
que nos agarram a este chão
tal qual árvores ou matos.

São coisas de dançarina,
que nenhuma exprime tanto
a grácil beleza do ser
frágil beleza do encanto.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tudo que te peço



Não te peço estar comigo
quando nascerem as flores
ou quando brotar do campo
a mais bela pura beleza;
Te peço que estejas comigo
Quando da dor dos espinhos
perpetrarem na carne, na vida,
e não houver mais vontades
que a de um solilóquio
que a de um abandono

Te peço, de quando murcharem
as roseiras dos verdes campos,
de quando seja pobre a colheita
e o tempo for de secas, delírios
e inquietações das mais diversas,
não falhe a tua vontade, nem perca,
ao cruel fio das circunstancias,
o teu coração a valentia que amo.

Que na felicidade me não falte
o teu sorriso largo de menino,
a tua candura terna de menino,
nem o teu penhor de menino.
Mas que não me falte também
nos dias em que de Tânatos,
anjo energúmeno e telepático,
for meu corpo entregue em oferenda,
a tua mão a me dar força de homem,
a me dar sustentáculo de homem,
a me dar da bravura tua de homem.

Que teu amor brote como o verde ramo
ainda tenro e frágil, ainda fraco e flácido,
onde os pássaros piadores tecem seus ninhos,
e onde as folhas crescem tão verdinhas
e que depois de muito viver se vão e caem.
Que brote o teu amor desse verde ramo.
Mas que depois cresça e se torne forte
onde eu possa amarrar minha rede
onde eu possa me sustentar nele
no dia em que o cansaço me tomar toda
e eu precise descansar.

Te peço isso jovem porque sei que a vida é breve,
e que o tempo voa/passa/anda tão rápido,
e que são inúmeras as circunstancias
em que nosso amor é posto à prova.
Por isso te peço a beleza da rosa
que nos agrada e nos faz bem,
mas também te peço a rigidez da rocha
quando a beleza da rosa em nós se apagar.

O tempo e os rastros (Monólogo em versos)

O TEMPO E OS RASTROS (Há uma senhora sentada, olhando para a plateia. Ela quer nos dizer algo, mas tem dúvida de como fazê-lo, plane...