sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Fogo, palha e lenha


Fogo, palha e lenha (II)

Lá onde o sereno molha
e onde é verso o silêncio
das estradas e dos campos,
uma faísca surge num momento,
pedaço frágil de encanto.

Por sorte dela cai uma folha
que ao tocá-la logo entesa
a chama fulgaz primitiva
poema feito na natureza,
poema em chama viva.

Por mais sorte ainda, a folha,
incendiada, cai por cima da palha
e em seu âmago seco explosivo.
Que logo que se vê provocada
desata-se em calor radiativo.

Calor esse que agora
a simples faísca presencia
que nem se lembra de sua origem
pingo apenas de energia
potencial, só de vertigem.

Mas essa chama quente toda
foi tão fulgaz quanto arrasadora,
Extinguiu-se num só encanto
sob sua fúria assoladora
mas que, no entanto

esqueceu-se de olhar em volta,
ao um pedaço de lenha encostado
que apenas presenciou toda a cena,
mas que findo agora o espetáculo
quer o fogo não extinguir seu poema.

A lenha não entra fácil na roda.
Nela a combustão é mais preciosa,
coisa que o fogo em seu desejo
tem que lutar de muitas formas,
e não com a força do lampejo.

Mas a lenha, mesmo rígida toda,
é tão fêmea quanto a palha extinta.
Nela, se não há leviandade,
a ardencia também a atiça,
e seu discurso em liberdade.

E num momento os nervuras,
o gestos contidos em prosa lenta,
se renderão ao discurso que arde
nas portas de seus alentos...
E o fogo fará com sua arte

de arder a si mesmo e a todos
que os desejos se possuam,
se penetrem corpo a corpo

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