I
De repente foi o choque,
Sensação desastrosa do contraste,
Depois veio o verso,
A surpresa de que existia algo.
A primeira coisa que pensei
Foi no teu toque inesperado
Entre as minhas ansiedades,
Depois, veio a ânsia de que me possuirias,
Uma pontada cinismo disfarçado de timidez
Que me enlevava em côncavos e convexos
Traduzidos em carícias, beijos.
Foi tudo uma ilusão desafiadora,
Uma moral sem sangue, desterrada,
Filha das íntimas entranhas do que se pode chamar Sophya Aurora,
Um ser indigente, por vezes indigesto até...
Foi tudo tão avassalador como os medos de uma virgem.
Foi o sexo um manto suave e o licor uma cantiga desesperada
Foi tudo um nada, feito de suspiros e versos.
Talvez eu fizesse uma poética menos crua do que essa,
Talvez eu até pense que assim te agradaria
Mas como fazer isto sem te rasgar de mim?
II
Quando pensei em te ligar hoje,
Foi-se de mim minha própria vontade,
Meus próprios anseios...
Segurei trêmula o telefone, olhei os dígitos, as intenções feitas nada,
Os versos escritos ao ar...
Uma dor forte me afligia dos pés à cabeça...
E, como, como não tinha muita escolha,
Decido-me entre ser ou não ser...
Quiçá tu ligasses mais tarde,
Quiçá não tardasses tanto se não dissesse que te esperaria
Quiçá ainda te escondesse sob minha saia,
Sob meus seios, sob meu corpo...
Ou, quem sabe, eu me tornasse mais romântica,
Não fosse tão ordinária como as rameiras da esquina
Mendigando prazeres a troco de nada.
Mas sou aquilo que vês e te espera...
III
Mais tarde fará um frio de lascar,
Se bem estivesse sozinha,
Abrigar-me não será complicado...
Tenho meus próprios sentidos
Que me dão idéia de como devo viver
Por isso, pego o taxi e vou dançar...
Às vezes a solidão não é sinônimo de estar só,
Mas a busca de alguém na multidão,
Um ser ensimesmado inconformado com o já...
Te quero, e apagar isso de mim é que dói.