Um pedaço de mim ainda te espera
São seis horas da manhã
Lá fora o barulho dos carros
Mistura-se ao que resta da ventania
E ao piar dos pássaros.
Faz tempo que surgiu a aurora
Um vento ainda gélido
Entra pelas janelas do nosso apartamento
E invade como quem se pede
Mas ao mesmo tempo se oferece
Num holocausto concebido pelo
Despertar dos corpos em transe...
Sabemos bem que temos que nos levantar,
No canto posterior da vivenda
Piados compassados do despertador
Chamam-nos num convite à vida
Que se desentranha lá fora
Como se fosse parte de nós
E na verdade o é,
Nem tudo é silencio na grande metrópole sonolenta.
No chão de nossa casa
Vejo nas cadeiras os restos
De uma roupa que tiramos às pressas
- meias, saias, cuecas, gravatas, lingerie –.
E um pouco de mágoas,
Talvez somente ansiedade
Enfim, destrincho diante dos meus olhos
Um pequeno gesto de doação fugidia
E grandes pedaços de arrependimento:
A que horas te foste, por onde andas?
Sento-me na cabeceira sem mais porquê
E vejo a rua pela ventana principal.
Os carros tecem-se em teias de aranha
De um abismo no asfalto,
Mas que, por seu movimento,
Devem ter algum encontro...
Então acho que devo esperar,
Por algum motivo este vazio
Me traz a certeza de tua espera
E dos desejos que juramos
Numa noite destas...
Então espero
E continuo a esperar
Até sentir-me segura
E ligar-te pra desejar bom dia.
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