Infelizmente o céu apresentava-se nublado. Até poderia ser que, ao ouvir a voz que estava ao outro lado do telefone, ele respirasse e tentasse se concentrar no espaço ao seu redor. Se o céu estivesse claro e o horizonte apresentasse a brancura florida de plena tarde, talvez ele até sorrisse, se permitisse prestar atenção na vida que corria, ainda que severina. Mas o céu estava nublado. Nada mais triste do que ver o horizonte mórbido de gelo e prata; o ar lúgubre de sonho e náusea... o desespero. O vazio freudiano que nos acompanha a tornar-se mais forte. Nada mais triste, ainda, se é o amor sinônimo de angústia e de feridas que muitas vezes se dão lentamente, e eu diria até que corrosivamente, como um processo de erosão das expectativas e a formação de sedimentos ruinosos que rebuscamos numa busca inglória do que foi glório. Assim, nos desesperos de nossa própria beleza, recriamos as nossas tristezas em imagens que nos consolassem. Se elas existirem, é claro... Mas infelizmente o céu estava nublado