Canta, pássaro nos
ares!
Pássaro nos ares
canta
a moça sobe na
colina
vestida de mil
espantos.
Ao pé da serra os
lobos
seguem-na
farejando
vindos de muito
longe
também vestidos de
pranto.
Canta, pássaro nos
ares!
A moça está
chorando
perdeu o pai em
emboscada
e a mãe está
delirando.
No topo d’alta
colina
faz um frio de
montanha
pelo céu a lua cheia
brilha seu esplendor
de prata.
Canta o pássaro
nos ares
e o vento almeja
abraçá-la
mas não pode, ela
corre
fugindo dos lobos
vorazes.
O lenhador sem
camisa
na fria noite
trabalhava,
de longe escuta o
grito
da pobre moça
assustada.
“Senhor, protege-me
dos lobos
que desfaleço sem
morada”
“Moça, perdões
peço-te mil,
mas faz frio em ‘nha
casa”
“Senhor, usa de
piedade
que me encontro
cansada”
“Moça, não me
causes tristeza,
que tenho esposa
acamada”
“Senhor, presta-me
auxílio
que larga é a
estrada”
“Não me causes
mais tormento,
pois tenho filho
aleijado”
“Se não mo dás
gratuitamente
deixa-me por tua
escrava”
O lenhador sentiu no
frio
a subir em suas
entranhas
a ponta de ígneo
gozo,
pelos membros
aflorando
“Dar-se-ía, ó bela
moça,
que eu bebesse de
teu bálsamo?”
Ao longe se
aproximam os lobos,
as narinas
farejando.
Na madrugada a
moça triste
goza amores de
espanto.
O vento corre em
volta
como que a tudo
vigiando
Na casa do
lenhador alguém olha:
Por que Papai não
está voltando?